O Edifício Bocaina

Anúncio do Edifício Bocaina, em 1956

Anúncio do Edifício Bocaina, em 1956

“Atingida a mais alta expressão em conforto residencial”, dizia a chamada deste anúncio, na página 42 da Folha da Manhã, 8 de julho de 1956, referindo-se aos apartamentos do Edifício Bocaina, na Alameda Santos, como “verdadeiras residências térreas”. As qualidades do prédio eram apregoadas como “conforto”, “distinção” e “nobreza”, sendo as duas últimas bastante subjetivas — e hoje não só politicamente incorretas, como até questionáveis.

Menções ao edifício na internet são bem raras, mas achei uma curiosa, retirada de um artigo da Revista USP número 69, de 2006, intitulado “Aprendendo a ver televisão na década de 1950”. Segundo a matéria, o anúncio do Bocaina foi um dos primeiros a mostrar uma televisão entre os móveis de suas respectivas plantas tridimensionais.

A partir de 1952, plantas tridimensionais, em que a espacialidade da demonstração sugeria pequenas casas de bonecas, começaram a fazer parte da propaganda imobiliária. O Estado de S. Paulo, a melhor fonte para o acompanhamento do mercado imobiliário paulistano, começou a apresentar esse tipo de desenho em 1952 (…). [De 1952 a 1954], a televisão não fez parte da expressão de desejos dos planejadores de interiores. Em 1955, dos onze anúncios publicitários, um único apartamento foi decorado com TV.

Contudo, nos anos de 1956 e 1957, metade dos prédios lançados incluiu televisores nas plantas demonstrativas. A mudança de atitude estava ligada a um barateamento do aparelho, agora acessível ao imaginário da classe média. (…) Essa televisão que começa a aparecer nos anúncios é tratada mais como um valor em si do que um valor de uso. Dessa forma ela surge, antes, como um fetiche, cuja entrada inadvertida no universo da casa criou distúrbios na organização do espaço. Os móveis estão voltados contra ela, desconhecendo o vórtice provocado pela imagem eletrônica, integrando-se ao ambiente como as antigas radiovitrolas. (…)

A ideia de convivência proporcionada pelos móveis é mais forte do que a concentração de energias da TV, como, de resto, aparece no Edifício Bocaina (Alameda Santos, 2.384). Apresentado como uma “verdadeira residência térrea” pela Imobiliária Paulista, os móveis do living estão organizados de forma a facilitar a conversação, extensiva aos seus três ambientes contíguos (um com TV, outro com dois jogos de sofás colocados frente a frente e uma biblioteca-escritório com uma mesa de centro e sofá; o excesso de espaços de convivência redundou no isolamento da cozinha em relação à área de serviço).

A televisão só é visível na versão maior do anúncio. Ela está quase no meio da parede central das salas à direita.

Independentemente de tudo isso, o prédio ainda está lá, apesar de já ter perdido todos os vizinhos que tinha em 1956. Emoldurado por frondosas árvores, é muito difícil fotografá-lo por inteiro. Os carros estacionados em um domingo de sol em janeiro passado também não ajudaram muito…

Fachada do Edifício Bocaina

Fachada do Edifício Bocaina

Entrada do Edifício Bocaina

Entrada do Edifício Bocaina

Alexandre Giesbrecht

Nascido em 1976, Alexandre Giesbrecht é publicitário. Pesquisa sobre a história do futebol desde os anos 1990 e sobre a história da cidade de São Paulo desde a década seguinte. Autor dos livros São Paulo Campeão Brasileiro 1977 e São Paulo Campeão da Libertadores 1992, já teve textos publicados em veículos como Placar e Trivela.

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1 resposta

  1. Alfredo disse:

    Você sabe onde eu poderia encontrar a planta tipo dos apartamentos do Bocaina?

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