O Viaduto da Lapa

O Viaduto da Lapa e o condomínio Central Parque Lapa

O Viaduto da Lapa e o condomínio Central Parque Lapa

Antes de o Viaduto da Lapa ser construído, o cruzamento das linhas da Sorocabana e da Santos–Jundiaí era feito por meio de passagem de nível, na mesma altura das linhas. A proposta foi do vereador Ermano Marchetti, e o projeto, apresentado em 1951, era de um viaduto que seria o maior já construído pela Prefeitura até então. A obra iniciou-se em 1956 e, após muitos atrasos, inclusive com a paralisação da obra, só foi inaugurada em 22 de junho de 1960.

Mais de quatro anos depois, ele ainda era apresentado como uma novidade no bairro. Aliás, novidade e chamariz. Pelo anúncio abaixo, presume-se que a área compreendida como “a única e natura expansão da Lapa comercial e industrial” seja toda a área entre a Rua William Speers (paralela às linhas da atual CPTM) e a Marginal Tietê, da Ponte do Piqueri até as proximidades da Avenida Santa Marina. E com a Avenida do Emissário no meio, antes de ela ganhar o nome do vereador Ermano Marchetti, citado no parágrafo anterior.

Anúncio publicado na Folha de S. Paulo, em 15 de dezembro de 1964

Anúncio publicado na Folha de S. Paulo, em 15 de dezembro de 1964

Em uma década em que o concreto ainda era tratado como “progresso”, não é de surpreender que o viaduto seguisse sendo considerado um atrativo para imóveis lançados na área. Em 1969, por exemplo: o Central Parque Lapa foi anunciado, já depois de pronto com a chamada “É só atravessar o Viaduto da Lapa”. Isso mostra o quão deserto eram aquelas bandas. Tão desertas, aliás, que o mapa do anúncio abaixo chama de “Avenida Ermano Marchetti” o que, na verdade, é a Praça Jácomo Zanella. É possível que tenha sido um descuido de quem desenhou o mapa, simplificando a localização, para (intencionalmente ou não) dar a impressão de que o condomínio ficaria próximo à avenida, quando, na verdade, ele fica a um quarteirão dela — não confundir com o condomínio Residencial Park Lapinha, que é parecido e fica na esquina da praça com a Ermano Marchetti.

(Parêntese: este não é o único erro do mapa. Mesmo sem escala, ele chama de “Largo da Lapa” o que provavelmente é a Praça Melvim Jones — o Largo da Lapa fica do outro lado da ferrovia, na confluência das ruas Félix Guilhem e Engenheiro Aubertin. Além disso, ele mostra a Rua Doze de Outubro como saindo do pseudo Largo da Lapa, junto com a Rua Doutor Cincinato Pamponet, quando, na verdade, uma é continuação da outra, após um “cotovelo”.)

Anúncio publicado n’O Estado de S. Paulo, em 13 de dezembro de 1969

Anúncio publicado n’O Estado de S. Paulo, em 13 de dezembro de 1969

O curioso dos dois anúncios é que nenhuma das duas estações Lapa que ali existiam — e ainda existem — aparecia nos mapas, mesmo com a linha férrea servindo como referência. Naquele tempo, os trens de subúrbio (a atual malha da CPTM) já estavam em decadência e não serviriam como atrativo para o público-alvo dos anúncios. O viaduto, sim.

Mas o que era um atrativo não demoraria para se tornar um estorvo. Quando assumiu a Prefeitura, em 1986, uma das primeiras medidas de Jânio Quadros foi solicitar um estudo sobre a duplicação do viaduto, algo que tinha prometido quando em campanha. Para isso, a largura da estrutura seria aumentada em cerca de sete metros.

O Central Parque Lapa, claro, foi o prédio mais impactado pela obra, tanto é que, em 25 de junho, um protesto de moradores do local conseguiu impedir os trabalhos. Além da perda de vagas, devido ao recuo da calçada da Rua Aristides Viadana, eles reclamavam que o barulho aumentaria e ficaria mais próximo das janelas do condomínio. “Não somos nem poderíamos ser contra a ampliação do viaduto”, disse um dos moradores. “Queremos apenas nossos direitos ao conforto e à segurança.”

Segundo os moradores, representantes da Prefeitura teriam feito a promessa de manter uma distância mínima de dezesseis metros entre os prédios e o viaduto, porém ela não foi cumprida, e a distância mínima acabou diminuída para cinco metros — ou 7,5 metros, na versão da Prefeitura, que alegou “necessidade de dar prioridade à ampliação do viaduto, em função das vantagens e benefícios que resultarão para a coletividade”.

É de se imaginar se o viaduto teria sido duplicado caso outro projeto da Prefeitura, de 1974, tivesse saído do papel. Em 7 de fevereiro de 1974, a Folha de S. Paulo publicou reportagem em que a prefeitura prometia construir, até outubro, quatro parques na cidade. Um deles seria na Lapa.

O terreno, “na esquina da Rua Guaicurus e do Viaduto da Lapa”, certamente é o que hoje abriga o Terminal Lapa de ônibus, algo óbvio, já que ele pertencia à antiga CMTC. Não sei se chegou a ser construído: encontrei uma única referência a um parque no local (ou próximo), em uma matéria sobre atividades culturais publicada na Folha de S. Paulo de 28 de novembro de 1975: “Neste fim de semana, a partir das 15 horas, a programação será desenvolvida no parque situado ao lado do Viaduto da Lapa.”

A Prefeitura, entretanto, já previa um terminal de ônibus ali desde, pelo menos, 1980, conforme anúncio publicado na página 13 da Folha de 25 de outubro daquele ano: “Implantação de terminal de ônibus para atendimento da Lapa de cima, na Rua Guaicurus, entre a estação [da] Fepasa e o Viaduto da Lapa, prevendo-se futura integração com o Metrô.” Esse terminal seria aberto em dezembro de 2003, junto com o corredor de ônibus entre o centro e Pirituba, mas até hoje não tem integração com o Metrô (que nunca chegou até ali) e nem mesmo com as duas estações vizinhas da atual CPTM.

Alexandre Giesbrecht

Nascido em 1976, Alexandre Giesbrecht é publicitário. Pesquisa sobre a história do futebol desde os anos 1990 e sobre a história da cidade de São Paulo desde a década seguinte. Autor dos livros São Paulo Campeão Brasileiro 1977 e São Paulo Campeão da Libertadores 1992, já teve textos publicados em veículos como Placar e Trivela.

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1 resposta

  1. Júlia disse:

    Uma pergunta, qual dos dois condomínios central park da Lapa foi fundado primeiro? O de quatro pavimentos ou o de 16?

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