Quase uma impossibilidade

"Skyline" de São Paulo, visto do topo do Conjunto Zarvos

“Skyline” de São Paulo, visto do topo do Conjunto Zarvos

Em março do ano passado, eu precisava fazer minha visita semanal a um cliente cujo escritório ficava em um dos últimos andares do Conjunto Zarvos, na esquina da Rua da Consolação com a Avenida São Luís. Normalmente, eu passava pela portaria e subia pelos elevadores da ala comercial. Mas, naquele dia, antes que eu chegasse à portaria, a funcionária que sempre me atendia trombou comigo na entrada do prédio e já foi dando a dica para eu subir com eles, por outro lugar: aparentemente, apenas um elevador estava funcionando na ala comercial, e eles estavam indo para a ala residencial, para subir por ali.

Fui com eles. Subimos até o último andar e, ali, pegamos uma íngreme escada até a cobertura do prédio, onde havia uma passarela ligando as duas alas. Foi já no topo da ala comercial que eu bati a foto acima, que contem em primeiro plano o relógio do Hotel Jaraguá e a obra de um prédio na Rua Álvaro de Carvalho, que já tinha destruído uma parte considerável da vista.

Por que estou contando essa história?

Porque o último texto do Quando a Cidade Era mais Gentil diz que hoje é impossível bater-se uma foto em que apareçam o Edifício Viadutos e o Conjunto Nacional. Imediatamente, lembrei-me da foto aqui acima, pois ela poderia mostrar que ainda há, sim, um ponto de onde ambos podem ser vistos ao mesmo tempo. Vã ilusão. Embora uma pontinha do Viadutos apareça logo acima do prédio do Hotel Jaraguá, à esquerda do relógio, o Conjunto Nacional não apareceria nela nem que o tal prédio da Álvaro de Carvalho não existisse.

Sei disso porque, em fevereiro de 2012, eu batera uma foto mais ou menos do mesmo ângulo, mas alguns andares abaixo. Além de a obra da Álvaro de Carvalho ainda não existir, a foto mostra o “skyline” mais para a direita e, mesmo assim, vai pouco além do Maksoud Plaza, o prédio colorido ao fundo, bem à direita. Para que o Conjunto Nacional fosse visto, seria necessário virar ainda mais para a direita. E, se o Viadutos já não aparecia no ângulo da foto, aí é que não apareceria, mesmo.

"Skyline" de São Paulo, visto do topo do Conjunto Zarvos, em fevereiro de 2012

“Skyline” de São Paulo, visto do topo do Conjunto Zarvos, em fevereiro de 2012

Isso não significa, claro, que não seja realmente possível enquadrar os dois prédios. Talvez do alto da Biblioteca Mário de Andrade ou de algum dos edifícios da Rua Bráulio Gomes? Talvez do alto do Edifício Itália? Talvez do alto do Edifício Altino Arantes (o do Banespa)? Desse último, eu teria como verificar, com base nas fotos que tirei quando lá estive pela última vez, em dezembro de 2003. E uma delas mostrou que, sim, ainda é possível enquadrar o Viadutos e o Conjunto Nacional na mesma foto. Mas não é de qualquer lugar, não.

"Skyline" de São Paulo, visto do topo do Edifício do Banespa, em direção à Paulista, em dezembro de 2003

“Skyline” de São Paulo, visto do topo do Edifício do Banespa, em direção à Paulista, em dezembro de 2003

Alexandre Giesbrecht

Nascido em 1976, Alexandre Giesbrecht é publicitário. Pesquisa sobre a história do futebol desde os anos 1990 e sobre a história da cidade de São Paulo desde a década seguinte. Autor dos livros São Paulo Campeão Brasileiro 1977 e São Paulo Campeão da Libertadores 1992, já teve textos publicados em veículos como Placar e Trivela.

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1 resposta

  1. Thais Reder disse:

    Que foto mais linda,o que aconteceu em São Paulo?Tudo está escandalosamente sem sentido,perdendo a históri o sol não bate mais em nossas gradesnem janelas são.Tudo pixado,ai que melancolia me dá…

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