Estamos acostumados a ver, hoje em dia, anúncios imobiliários exaltando as áreas de lazer do empreendimento em questão. Por isso, é curioso notar um anúncio como o acima, publicado na Folha da Manhã de 11 de abril de 1954, que exalta a área de lazer de um empreendimento vizinho — no caso, o clube do Palmeiras: “Bem em frente ao Edifício Olímpico, localiza-se a piscina da S.E.P. (…) e você também poderá gozar e praticar esportes nessa magnífica praça esportiva.” Esse certamente não foi o único caso de empreendimentos nas vizinhanças do Parque Antártica que se aproveitaram da proximidade para ganhar compradores.
Sabe aqueles prédios que tinham uma visão privilegiada do antigo Parque Antártica e, especialmente nas transmissões esportivas da Bandeirantes, costumavam ter vários apartamentos piscando as luzes da sala? Este é um deles, e seu anúncio, publicado na Folha da Manhã de 20 de outubro de 1957, continha o mesmo atrativo: a proximidade ao clube.
Neste aqui: “Você já imaginou (…) um apartamento seu, ao qual V. pudesse chegar à tardinha, vestir um ‘short’ e descer com as crianças para um gostoso banho de piscina?” Hoje em dia, os anúncios não trazem mais um texto formal como esse, mas apregoam as piscinas e espaços de lazer. A diferença é que, agora, piscinas e espaços de lazer estão dentro dos respectivos condomínios, e a segurança de “estar murado” é sempre um “atrativo”. (Impossível também não citar a sempre deliciosa expressão “cidade”, para definir o centro — “num magnífico edifício pertinho da cidade”.)
Três anos depois desse anúncio, os edifícios Esmeralda e Palestra aproveitavam-se das instalações da Sociedade Esportiva Palmeiras para se promover. E aproveitavam-se também do Edifício Palmeiras: “Incorporado, construído e vendido pelas mesmas organizações que entregaram o Edifício Palmeiras, com dez meses de antecedência.” Ao contrário dos dois anúncios anteriores, este, publicado na Folha de S. Paulo de 2 de outubro de 1960 (curiosamente, dia da inauguração do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, no Morumbi), também destacava o apartamento em si, inclusive o acabamento, com “fachada totalmente revestida de pastilhas, persianas de alumínio, luz indireta, azulejos de cor no banheiro, chuveiro elétrico no WC de empregada, ponto para máquina de lavar roupa e tubulação para antena coletiva de rádio e televisão”.
Logo ao lado desse texto, havia a ilustração de uma família na varanda, aparentemente assistindo a um jogo de futebol no estádio vizinho. A mãe, inclusive, usa um binóculo. A legenda explicava: “Do seu apartamento, você domina toda a praça de esportes do Parque Antártica, com o verde grupo de piscinas e campo de futebol a seus pés.” Mas, agora, o clube não era o único atrativo próximo. Os estabelecimentos da Sears da Água Branca e do supermercado Peg Pag também eram citados. Isso sem falar nas “amplas avenidas de acesso [ao Centro] e fartíssima condução” — desta vez, o Centro era “Centro”, mesmo.
A referência ao “supercampeão” deve-se ao título paulista de 1959, conquistado pelo Palmeiras em janeiro de 1960, após dois jogos extras contra o Santos — os times tinham empatado em pontos ganhos ao longo dos dois turnos. E a foto aérea tem uma qualidade muito superior à média das reproduções de fotos no acervo online da Folha. Dá para ter uma boa ideia de como era a Rua Turiaçu em 1960 (é a rua à esquerda) e até a Avenida Francisco Matarazzo (no canto superior direito), além, claro, do próprio estádio, ainda muito menor do que a versão que foi derrubada nos últimos anos para a construção da nova “arena”.
É possível que numa pesquisa mais detalhada se encontrem outros anúncios similares na região, nesta época. O mais irônico disso é que foram os condomínios com grandes áreas de lazer que fizeram o número de associados nos clubes paulistanos cair vertiginosamente, a partir dos anos 1990. Na ausência dessas áreas de lazer, os moradores dos edifícios Olímpico, Palmeiras, Esmeralda e Palestra ainda têm um excelente motivo para se manterem associados ao Palmeiras, ainda que não necessariamente torçam para o time.
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[…] Anúncio publicado no jornal na Folha da Manhã, em 20/10/1957 (Foto: Blog Histórias Paulistanas) […]