As casas suspensas da Rua Genebra

Casas "suspensas" na Rua Genebra

Casas “suspensas” na Rua Genebra

A Rua Genebra, na pontinha do Bixiga, não leva esse nome em homenagem à segunda cidade mais populosa da Suíça. Seu nome é, na verdade, uma homenagem a Dona Genebra de Barros Leite (1783—1836), esposa do Brigadeiro Luís Antônio de Souza. A honraria foi planejada pela nora de Dona Genebra, Dona Francisca de Paula Souza e Melo, a Baronesa de Limeira. Seu marido, Vicente de Souza Queirós, o Barão de Limeira, era um dos três filhos do Brigadeiro, e o único que não foi homenageado com nome de rua naquele bairro: suas irmãs, Maria Paula e Francisca Miquelina, também são homenageadas em ruas que fazem esquina com a Rua Genebra.

A esquina das ruas Genebra e Maria Paula nem sempre foi como é hoje. Até 1954, era como se existissem duas “Ruas Genebra”: uma entre as ruas Aguiar de Barros e a Maria Paula (a parte “de cima”) e outra entre as ruas Maria Paula e Santo Amaro (a parte “de baixo”). A parte de cima terminava na altura da Maria Paula, mas num íngreme barranco de alguns metros de altura. Por causa disso, a parte de baixo era um local mais movimentado e procurado para estabelecimentos comerciais, também pela proximidade ao eterno “futuro Paço Municipal”. O local era chamado de “ponto de grande futuro” em diversos anúncios de imóveis em 1949.

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O desnível entre os dois pedaços da rua começou a chamar a atenção especialmente no fim dos anos 1940, com a urbanização da Rua Maria Paula (que chegou a ser chamada de Avenida Maria Paula ou Avenida de Irradiação nessa época). É possível que a construção do Condomínio Planalto, em 1953, ocupando o terreno no lado ímpar da Rua Maria Paula entre as ruas Genebra e Santo Amaro, tenha sido também um fator para destacar a situação.

“Outra via que se encontra em condições ainda piores é a Rua Genebra. Essa artéria de feição pouco elegante apresenta dois níveis. A parte de baixo está em ordem. Entrementes, a de cima é aberta com perigoso barranco e escorregadia escadinha, constituindo sério perigo aos transeuntes. Poderia a Prefeitura mandar construir escada segura na Rua Genebra.” Folha da Manhã, 23 de abril de 1948, página 2

A Prefeitura acabaria optando por outra solução: escavar a Rua Genebra, transformando-a numa descida. A terraplanagem não foi simples e levou vários meses para ser concluída, conforme relatava a Folha da Manhã em 14 de fevereiro de 1954, “devido ao lençol de água superficial ali existente e aos encanamentos de serviços públicos, tais como água, esgotos, luz e telefone, que precisaram ser alterados em seus percursos. A obra resolveu o problema, fazendo com que o ponto de encontro das duas ruas ficasse na mesma altura.

Entretanto, isso teve um preço para alguns dos moradores. As casas da foto que abre este artigo ficam a poucos metros da esquina com a Maria Paula, então passaram a ficar acima do novo nível da rua. Sendo elas provavelmente as únicas nesse trecho que são remanescentes da época da terraplanagem, são também as únicas que precisam de escadas para que suas portas sejam alcançadas.

Terraplanagem da Rua Genebra, em reportagem de 1954

Terraplanagem da Rua Genebra, em reportagem de 1954

Alexandre Giesbrecht

Nascido em 1976, Alexandre Giesbrecht é publicitário. Pesquisa sobre a história do futebol desde os anos 1990 e sobre a história da cidade de São Paulo desde a década seguinte. Autor dos livros São Paulo Campeão Brasileiro 1977 e São Paulo Campeão da Libertadores 1992, já teve textos publicados em veículos como Placar e Trivela.

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5 respostas

  1. Martin disse:

    Muito interessante… Eu nunca tinha entendido essas casas, e sempre achei esquisito esse paredão feio na frente delas. Agora fica claro! :)

  2. Ana Maria disse:

    Uma história muito interessante e bem contada. Acho super importante preservarmos a história da cidade. Artigos como este fazem exatamente isto de forma compreensível para qualquer pessoa. Gostei!

  3. amaury disse:

    o artigo é esclarecedor.

    mas a foto da Folha da Manhã é a “cereja do bolo”.

  4. Thais Reder disse:

    ALEXANDRE,QUE DELÍCIA LER, E VER AS FOTOS QUE VOCÊ NOS DEIXA,CONTA DE MANEIRA CLARA,DEIXA ATÉ UMA SAUDADE NO AR E UMA PESSOA TÃO JOVEM SE PREOCUPAR ASSIM, SE IMPORTAR COM ISSO TUDO,MAS COM QUE TRISTEZA EU ESTOU REVENDO CASAS DOS MEUS AMORES,CASAS DE MINHAS SAUDADE.ALEXANDRE, ESTÃO ACABANDO COM O BAIRRO DE SANTANA, DE UMA VOLTA PELAS RUAS ANTONIO ROSSI,LINDAS CASAS, SOBRADOS MARAVILHOSOS, INDO PRO CHÃO, E NASCENDO ESSES PREDIOS HORRÍVEIS.PORQUE ESTÁ ACONTECENDO ISSO?EU QUERIA SABER PRA ONDE VÃO ESSAS PESSOAS ?MORRERAM? AI A CASA FICOU GRANDE DEMAIS?CONHECI UMA SENHORA NO ÕNIBUS E ME DISSE QUE MORAVA ALI,E ALI,ERA O METRÔ JARDIM SÃO PAULO E ELA DIZIA,
    ERA UM CASARÃO ENORME HOJE EU ESTOU TÃO BEM DENTRO DE UMA CAIXINHA, QUE ME CABE DIREITINHO, EU VOU PRA LA, E JA ENTRO ALI ,NÃO PRECISO LAVAR QUINTAL,E COM SORRISO NOS LÁBIOS…E EU MORRO DE SAUDADE DE MORAR EM CASA!DOIS ARRANHA CÉUS ESTÃO BEM DIANTE DO MEU PEQUENINO E DECADENTE PRÉDIO(QUE EU NEM GOSTO) E NEM O SOL ENTRA MAIS,EU TO FICANDO DEPRIMIDA COM O QUE ACONTECE AQUI.

  5. Cris disse:

    Sou proprietária de uma dessas casas, fiquei feliz por saber sua história, estamos cuidando deste patrimônio da nossa cidade!

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